JUDITH C. RIBEIRO

Judith Leão Castello Ribeiro nasceu no município da Serra, em 31.08.1898, filha de João Dalmácio Castello (*23.06.1870-+07.03.1935) e de Maria Grata Leão Castello (*04.06.1882-+29.09.1972), neta paterna do Capitão João Cardozo Castello e de Thereza Rodrigues da Conceição Castello, e neta materna de Miguel Barbosa Leão e de Anna Maria da Conceição Barbosa Leão. Leão Castello, união de duas famílias portuguesas - Leão e Castello - das cidades de Penafiel e do Porto, respectivamente. Educadora desde cedo, cursou a escola primária na Serra, e em seguida prestou exame de admissão para o Colégio do Carmo, em Vitória, onde obteve seu diploma no Curso Normal. Diplomada ainda muito jovem passou a lecionar no Ginásio São Vicente de Paulo, em Vitória, onde estudaram várias figuras proeminentes do cenário nacional, dentre elas, seus alunos, o ex-Senador João Calmon e o jurista capixaba Clóvis Ramalhete, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal. No São Vicente, durante quarenta anos ministrou cursos em diversas áreas do conhecimento, tais como Sociologia, Pedagogia, Psicologia, Geografia, Didática etc.

 

Em 1930, foi convidada a lecionar na Escola Normal Pedro II, em Vitória, onde tornou-se catedrática de "Ciências Pedagógicas", em 1932. Lá permaneceu durante longos anos e aposentou-se em 1963. Ocupou não só as cadeiras relativas ao curso de "Ciências Pedagógicas", mas ministrou, também, aulas de Psicologia, Metodologia e Prática de Ensino, Educação Moral e Cívica, Economia e Ensino Rural. 

Na Escola Normal Pedro II, já mostrava vontade de transformar a realidade social na qual estava inserida. São vários os exemplos que, desde àquela época, demonstram sua inclinação para o mundo da política, entendendo a educação com ênfase humanística, como instrumento privilegiado de transformação social. Visando, entre outras coisas, estimular o aprimoramento cultural de seus alunos, fundou o "Museu Pedagógico" (entre 1930 e 1946, na Escola Normal Pedro II), além de dar início a publicação da "Folha Escolar", jornal de circulação interna das classes primárias, na Escola Normal Pedro II (1930-1946). Criou também o "Bureau de Correspondências" (Escola Normal 1930-1946), que garantia o intercâmbio entre as normalistas capixabas e os alunos de outros Estados e Países. Estabeleceu, além disso, uma hora destinada à "Iniciação Literária e Musical", assim como uma outra para "Cultura e Arte".

 

Com a colaboração das alunas e apoiada pelos diretores, fundou a "Caixa Escolar Eurico Sales", responsável por parte das verbas destinadas à merenda escolar dos alunos das classes primárias. Com isso, visava não só auxiliar os alunos carentes, mas também despertar em todos o interesse pelos programas que arrecadavam fundos para os internos do Orfanato Cristo Rei, incutindo em seus alunos o senso de responsabilidade social.

Em 13 de fevereiro de 1932, submeteu-se a concurso aberto pelo Governador Provisório, Capitão João Punaro Bley. O concurso foi realizado em sessão pública, no auditório do Grupo Escolar Gomes Cardim, em Vitória, onde a professora Judith apresentou, diante da platéia repleta, a tese intitulada "A Educação e o Ensino Interessante". Foi classificada em primeiro lugar pela banca examinadora, composta pelo Desembargador Carlos Xavier Paes Barreto, Dr. Arnulfo Matos e pelo Professor Bodart Júnior, da Escola Superior de Pedagogia de Belo Horizonte, posição que, após contestação, foi confirmada pelo escritor Medeiros de Albuquerque, em recurso para o Ministério da Educação no Rio de Janeiro.

Já em 1933, com a entrada do país no regime constitucional, pôde iniciar sua vida política, no sentido estrito. Apoiou o movimento revolucionário constitucionalista de São Paulo e, em 1934, candidatou-se ao cargo de Deputada Estadual, na qualidade de candidata avulsa, uma vez que dispensava legenda partidária, conforme a legislação vigente. Tal atitude se justificava pelo fato de discordar da então política estadual em vigor, à época sob orientação da Interventoria.

Em 1938, numa ocasião em que esteve no Rio de Janeiro, conheceu Talma Rodrigues Ribeiro(que foi Prefeito da Serra, de 1945 a 1946), então funcionário do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC), de quem fica noiva alguns meses mais tarde. Casou-se com ele no mesmo ano, em Vitória. Talma foi companheiro e incentivador da carreira da mulher. Sem filhos, mas, como verdadeiros pais, o casal participou intensa e amorosamente da formação dos sobrinhos, além de ter criado outras crianças do município da Serra.

Em 29 de março de 1947, foi a única mulher a tomar posse na cadeira de Deputada Estadual do Espírito Santo, eleita com 1.170 votos ­ de um total de 27.528 eleitores no Estado (4,25% do eleitorado, hoje, em 2004, corresponderia a uma votação de aproximadamente 80.000 votos) ­ , nas eleições realizadas em 19.01.1947. Assumiu o mandato na Assembléia Constituinte, pelo Partido Social Democrático (PSD), que também elegeu o Presidente Eurico Gaspar Dutra, bem como o Governador do Estado Dr. Carlos Fernando Monteiro Lindenberg. Judith exercia no partido o cargo de Primeira-Secretária. A partir daí, foi deputada estadual por quatro legislaturas consecutivas. Elegeu-se em 03.10.1950, com 1.528 votos, de um total de 51.315 eleitores (2,98% do eleitorado). Reelegeu-se para novo mandato (1955 a 1958), quando obteve 2.218 votos, de um total de 175.916 apurados nas eleições de 1954 (1,26% do eleitorado). Reeleita novamente em 1958, foi deputada de 1959 a 1962. Em 1962, candidatou-se mais uma vez, mas não conseguiu reeleger-se, ficando como suplente, tendo assumido diversas vezes em substituição a deputado licenciado. Como parlamentar, continuou sua luta em benefício do professorado, tendo exercido ininterruptamente a função de presidente da Comissão de Educação da Assembléia Legislativa, além de apresentar vários projetos ligados à Educação.

Católica, foi sempre muito fervorosa no cumprimento de seus deveres religiosos. Participou de várias instituições, dentre elas a Associação de Nossa Senhora Auxiliadora, da qual foi membro da Comissão Zeladora da Igreja. Além disso, por dezoito anos, foi, ao mesmo tempo, primeira-secretária e membro-fundador do Hospital Santa Rita de Cássia, nome escolhido por sua sugestão. Pertenceu, também, à Associação das Filhas de Maria Imaculada do Colégio do Carmo. Fez parte da comissão pró-construção da Colônia Pedro Fontes (para tratamento de portadores de hanseníase), em Itanhenga, Cariacica, além de ter sido membro da Campanha da Bondade, promotora de eventos para arrecadar recursos financeiros para a construção do Preventório Alzira Bley, em Itanhenga, para proteção dos filhos de hansenianos. Fez parte, também, da Comissão pró-Obras da Catedral Metropolitana de Vitória, tendo sido indicada pelo Bispo D. Luiz Scortegagna e pelo Conselho Episcopal.

Judith foi, ainda, membro da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, com sede no Rio de Janeiro, cuja filosofia era a continuidade dos ideais do político nacionalista preocupado com projetos educacionais que elevassem a auto-estima do povo brasileiro. Participou do Conselho Estadual de Educação, na qual ocupava o cargo de Secretária da Comissão do Ensino Médio. Naquela época o Conselho Estadual aprovava a liberação de cursos superiores, tendo naquela oportunidade garantido, entre outras conquistas, a aprovação da criação da Faculdade de Direito de Colatina - FADIC (hoje UNESC).

Sua participação na vida pública não se limitou a suas atuações em diversas instituições. Escrevia, periodicamente, artigos para o Jornal "Diário da Manhã" e para as revistas "Vida Capixaba", "Canaã", "Revista do DSP", "Revista da Educação", quase todas editadas pelo Estado do Espírito Santo. Publicou, ainda, crônicas e relatos da vida social do município da Serra, no Jornal "A Gazeta", onde pôde valorizar o espírito comunitário, o senso de religiosidade local e tecer comentários históricos acerca de sua gente. Em 1980, por fim, publicou o livro "Presença", uma coletânea de vários trabalhos e crônicas, que de certa forma sintetiza muitas das discussões que permearam a sua vida. Esse livro foi doado à Igreja a fim de que esta conseguisse auferir recursos destinados aos pobres.

Em 1949, fundou e tornou-se a primeira Presidente da Academia Feminina de Letras do Estado do Espírito Santo. Em 25.08.1949, ingressa na Associação Espírito-Santense de Imprensa (AEI), matrícula 109. Além disso, foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Espírito Santo (12.06.1981) e membro da Academia Anapolina de Filosofia, Ciências e Letras de Goiás (06.02.1979).

A despeito de todo o trabalhou que realizou, e das elevadas posições que ocupou, nas eleições de 1962, não conseguiu sua reeleição, e ficou na suplência, condição na qual pôde assumir algumas vezes o mandato. Ainda nesse ano, decidiu encerrar a carreira política, não participando mais de nenhuma disputa eleitoral.

No dia 04 de junho de 1963, aposentou-se na Escola Normal Pedro II com os proventos de dois salários mínimos, antes, porém, o então governador do Estado Francisco Lacerda de Aguiar (conhecido por Dr. Chiquinho), talvez arrependido por toda a perseguição pessoal que fez a Judith e seus correligionários, a convidou para ocupar o cargo de Ministra, hoje, Conselheira do então recém-criado Tribunal de Contas do Espírito Santo. Embora o governador Chiquinho fosse adversário além das convicções ideológicas e programáticas, desejou se redimir e, assim, permitir que Judith pudesse se aposentar melhor. Ela recusou a oferta, em razão de ser adversária política do governador e não concordar em assumir o cargo para uma aposentaria melhor financeiramente. Voltou a lecionar no Ginásio São Vicente de Paulo, em agosto de 1963, até aposentar-se também pelo INPS, no fim do ano de 1974, com proventos de um salário mínimo. Não teve aposentadoria pelos dezesseis anos de mandato de deputada e os anos que assumiu a Assembléia na condição de suplente em substituição.

Foi cidadã, esposa, mãe de criação, irmã, tia, professora e filha dedicada. A vida lhe aplicou alguns golpes, o primeiro deles foi à perda do pai, em 07.03.1935; poucos anos depois, em 1939, perdeu seu irmão Rui; em 1954, faleceu seu irmão Romeu, em 10.12.1960, outro grande golpe lhe foi desferido, quando Deus chamou à sua presença seu irmão Rômulo Leão Castello, que era líder político no município da Serra, onde foi prefeito entre 1947 e 1951. Em 29.09.1972 Deus fez o chamamento de sua querida mãe que, com aquela pele de pêssego e lindos olhos azuis, teve as atenções de Judith redobradas em função de ter ficado paraplégica, em 1958. Seu falecimento foi mais um duro golpe. As intensas atividades de Judith não a impediam de dar atenção e carinho à sua família e aos que eram atendidos por ela. .

Judith não esmorecia com os fatos negativos que a vida lhe apresentou, continuava suas diversas atividades. Em 10 de setembro de 1981, ao tomar posse na Cadeira 12 da Academia Espírito-Santense de Letras foi a primeira mulher a pertencer à instituição.

Aproximadamente dois meses após a solenidade de posse na Academia de Letras, Judith fica gravemente doente, na cidade do Rio de Janeiro, tendo sido operada no Hospital Beneficência Portuguesa. Retornou a Vitória, mas a doença se agravou, após as festas de fim de ano de 1981, das quais participou. Retornou ao Hospital no Rio de Janeiro, onde faleceu no dia 23 de março de 1982, deixando sua "Presença" viva registrada na memória daquelas crianças criadas por ela, principalmente, na do atual ocupante da Cadeira 04 da ALEAS, João Luiz Castello Lopes Ribeiro, seu sobrinho e filho de criação. Assim como na memória das diversas pessoas que lograram desfrutar de seu entusiasmo e de sua fé na política quando feita com amor.

Em uma homenagem a Judith, em 1975, na Assembléia Legislativa, o escritor Eurípedes Queiroz do Valle, na solenidade, comentou o discurso de Judith com uma jovem professora a seu lado: "Veja senhorita como é bela a língua portuguesa, quando nos lábios de quem a conhece e sabe manejá-la com maestria".

A escritora capixaba Neida Lúcia de Moraes no Caderno Especial do jornal A GAZETA de 08 de março de 2004, página 02, em homenagem a Judith, assim traça seu perfil: "Judith foi uma pioneira na política e na vida capixaba. Parlamentar ativa, era uma deputada dinâmica e muito participativa na Assembléia.

Foi também a primeira mulher a ingressar na Academia Espírito-Santense de Letras. Sem dúvida, ela foi um exemplo de mulher pioneira e batalhadora".

Uma lição de vida.

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